Parecia loucura repetir essa frase como um mantra em um ano como 2020, no qual a humanidade viu-se ameaçada por um vírus com probabilidades fatais, que aumentou as incertezas e obrigou-nos a olhar a vida sob outra perspectiva. Entretanto, assimilar que “sonhar vale a pena” fez com que um grupo de estudantes brasileiros empreendessem na realização de seus projetos com o único objetivo de inspirar outras pessoas a jamais desistirem de olhar para suas paixões. Meu nome é Izabela, sonhadorista convicta desde 2018 e hoje eu vim contar-lhes a história de uma semente que virou árvore e alimentou corações em um período de escassez e tempestades.
– Professora, e o Sonhadorismo?
Recebi essa pergunta ao menos uma vez em cada uma das cinco salas de aula em que entrei ainda em Janeiro deste ano. A repercussão do projeto foi imensa por conta do sucesso da vivência de 2019. Longe de nossos pensamentos estava um distanciamento forçado e planejávamos tudo e mais um pouco, para trazer um significado ainda maior ao Sonhadorismo no Colégio Marista Nossa Senhora de Nazaré, em Belém do Pará. A promessa de um ano incrível, com projetos realizados juntamente a um grupo de estudantes de fama excepcional, extremamente animados e motivados foi balançada pelo adoecimento global. A pandemia provocada pelo novo coronavirus sufocava inclusive os sonhos. Como falar de motivações, sonhos e paixões quando ao nosso redor imperava o medo, a morte, a calamidade? Estávamos juntos, porém sozinhos em nossas salas virtuais.
“Professora, e o sonhadorismo?” – Perguntavam-me os alunos, quando ainda acreditávamos que a quarentena, de fato, duraria 40 dias. O distanciamento social invadiu os meses e sonhar parecia impossível. Mal sabíamos, às vezes, o porquê de continuarmos a levantar todos os dias e assumir nossos lugares em frente ao computador. A verdade é que fomos a força um do outro, até que no mês de Agosto houve uma resposta para a insistente pergunta: e o sonhadorismo?
Era preciso levantar, limpar os joelhos e firmar os passos, por mais que a visão ainda fosse nebulosa. Iniciámos o journaling de forma muito diferente do usual, porém causando o mesmo impacto: como assim quem me inspira? Professora, eu não sei dizer se sou bom em algo. E foi a partir do questionário elaborado pelo professor Rui Loureiro que pude responder: o Sonhadorismo será agora! Aproveitamos, então, o que a situação trazia ao nosso favor. E, vivendo a “era das Lives”, conseguimos algo que nos parecia tão difícil! Um encontro do nosso colégio com o professor Rui. Famílias, estudantes “filhos do projeto” (antigos, veteranos e futuros), colegas e curiosos juntaram-se ao nosso bate-papo virtual que ignorou o oceano existente entre nós e as quatro horas de diferença. No dia seguinte à live, minha caixa de mensagens ficou movimentada com tantos recados de gratidão e empolgação com aquele projeto. Foi, então, a minha vez de perguntar:
– Pessoal, sonhar vale a pena?
As respostas tímidas eram um lá e cá de incertezas, até chegarmos ao consenso: vamos relembrar ao mundo que sonhar vale a pena! Junto a mim, arregaçaram as mangas a professora de educação física, Mannuella, nossa orientadora, Amanda, e coordenadora, Marília. Mais tarde, animados com a empolgação dos estudantes e nossa, entraram para o grupo os colegas de Geografia, Alessandro, física, Scooter e produção de texto, Katiúscia. Tínhamos o projeto refeito, prevendo ações no sistema de ensino híbrido, que era nossa realidade à altura do mês de Setembro. Construímos e deliberamos muitas coisas em espaços reais e virtuais e vislumbramos um espetáculo de final de ano que seguisse essa perspectiva também. Entretanto, mantínhamos os pés no chão, relembrando de que os casos de contágio/morte poderiam voltar a subir e um decreto anunciando suspensão das atividades presenciais poderia vir a qualquer momento.
E não é que veio? Muito mais rápido do que imaginávamos. Porém, os estudantes já haviam selecionado cinco nomes para dizer por que sonhar vale a pena: Neil Armstrong, Lady Gaga, The Beatles, Marie Curie e Nelson Mandela. Cada grupo viveu uma experiência diferente para a escolha desses nomes, assim como foi diferente a motivação de cada uma das turmas: queremos representar o papel da mulher; falaremos a respeito da ciência, mostraremos a importância de se acreditar em si, black lives matter… o afinco com que cada turma trouxe à tona a importância desses nomes, convenceu-nos de que 2020 trar-nos-ia um Sonhadorismo inesperado.
Veio, então, um desânimo imenso por conta da realidade que havia sido declarada: precisamos adaptar os projetos todos à modalidade 100% online, ou ao menos próximo a isso. Alguns grupos ficaram tão frustrados que começaram a criar resistência ao projeto. Foi, então, hora de praticarmos uma habilidade própria do Sonhadorismo: saber voltar atrás e refazer tudo. Fizemos. Fomos juntos, três casas ao revés para um salto quântico! Enfrentando todas as limitações impostas pela pandemia, os nossos meninos, enfim, concretizaram cinco belos curta metragens para contar, ao modo deles, as histórias daqueles cinco nomes e dizer por que sonhar vale a pena.
Após tantos percalços, celebramos a oportunidade de finalizar o ano letivo de 2020 com o Sonhadorismo em uma festa sem igual. A coordenação organizou junto à direção o “Drive-thru Sonhadorismo”, no qual os estudantes iam com suas famílias, de carro, apenas para entregar as “cartas para o futuro eu”, que compõe a Cápsula do Tempo a ser aberta em três anos. E, para finalizar, tivemos o Sonhadorismo Live Show, em formato de live pelo Youtube, no qual apresentamos os vídeos construídos pelos estudantes e interagimos com famílias e outros educadores da instituição.
Mesmo de longe e sem “aquela aglomeração” humana da qual tanto gostamos, conseguimos sentir os corações de todos os envolvidos a pulsar junto com a gente. O virtual ultrapassou todas as barreiras e emocionou a toda a gente. Assim, o Sonhadorismo ganhou um espaço inusitado naquele colégio de Belém do Pará. Com apoio incondicional não apenas da direção da escola e da comunidade, como de uma das maiores universidades da cidade. Além das lives registradas, ganhamos um espaço especial no website oficial do colégio: no menu “Projetos”, lê-se a aba “Sonhadorismo”, em construção com os sonhos e as paixões nossos e dos nossos alunos.
Ao final da sexta-feira, 11 de dezembro, emocionei-me por ver que uma semente trazida do além-mar ganhara terreno fértil nas terras amazônicas e agora era já uma árvore, potencialmente frondosa, regada por muitas mãos que acreditam no poder de sonhar.
Texto da Autoria da Professora Izabela de Almeida Haber
#KeepDreaming
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