Não serei o único a reparar no crescente ódio que nas redes sociais (principalmente facebook), certas manifestações a favor do politicamente correcto geram. Assuntos como os direitos dos animais, o abate de árvores, o desperdício de comida ou a má gestão de resíduos, são aproveitados por pessoas individualmente ou em grupo, os justiceiros digitais, para a reboque do politicamente correcto lançarem acusações ( na maior parte dos casos justificadas e pertinentes) sobre pessoas ou instituições.

Apesar de considerar que se devem esgotar outras vias de protesto ou chamadas de atenção, antes de se recorrer ás redes sociais, não me choca tanto a as acusações em si. Choca-me o chorrilho de comentários e manifestações de ódio que as mesmas geram. Em minutos, uma situação destas gera rapidamente centenas ou mesmo milhares de partilhas e comentários. No meio desses milhares de manifestações, raramente encontramos alguém mais moderado ou até a defender o contraditório o que é sempre bom nestes casos, para que se previna o extremismo.

Este fenómeno vinha-me a intrigar há já algum tempo, até que li um artigo onde se falava no “efeito da câmara de eco”. Basicamente este conceito diz que nas redes sociais estamos mais próximos de apenas conectar com pessoas com ideias, valores e pensamentos muito semelhantes aos nossos, pois temos o poder de selecionar com quem nos “damos”, e que naturalmente irão apoiar o que pensamos e escrevemos. Ora isto é tremendamente perigoso. Se numa mesa de café, ou num jantar com 5, 10 ou 15 pessoas, haverá certamente sempre quem pense diferente de nós, e nos obrigue a refletir e abordar outras perspectivas sobre um mesmo assunto, obrigando-nos a considerar que possivelmente não estaremos totalmente certos, nas redes sociais isso não acontece. Estamos sempre certos!!

A generalização é outro resultado deste tipo de atuação dos justiceiros digitais. Eventualmente o destinatário da acusação terá errado. Como todos nós erramos. Como nos sentiríamos, se após um jantar de amigos em nossa casa, cansados, deixássemos a cozinha suja e desarrumada (todos nós já o fizemos) e alguém aproveitasse esse momento, para tirar uma foto, postar no facebook, e acusar-nos perante todos de porcos incorrigíveis? Ou se aproveitassem para filmar o momento em que após a centésima chamada de atenção, levantamos a voz ao nosso filho, (todos nós já o fizemos) e ignorando o carinho que instantes depois de fizemos, nos acusasse de Pais violentos? Ou se aproveitassem a limpeza que fizemos ao frigorífico, deitando fora pacotes de leite fora do prazo (todos nós já o fizemos ) e ignorando isso, tirassem uma foto e nos acusassem de desperdiçar comida com tanta gente a necessitar?

Não nos devemos esquecer que as acusações e as reacções de ódio que as mesmas geram, irão ter sempre um destinatário. Alguém que como nós, com sentimentos, uma dignidade, uma família. E ignorar isso é atroz.

Esta realidade polariza a sociedade, fecha-nos em círculos extremistas, não nos obriga a considerar diferentes opiniões, torna-nos menos empáticos…. E a empatia é um valor essencial numa sociedade que se quer harmoniosa e equilibrada.

Texto da Autoria de Rui Loureiro Mentor do Projeto Sonhadorismo