Não há muito tempo, participei nos tão na moda “bootcamps” de empreendedorismo, onde se vende a ideia de que em 48h se sai de lá um empreendedor, quando na verdade, o objetivo é tornarem-nos a todos empresários em nome individual, desprotegidos, individualistas, a lutar uns contra os outros numa economia gerida e comandada por grandes grupos e corporações. Mas adiante porque não é sobre o logro do empreendedorismo, que hoje me apetece falar.
Para o final do primeiro dia estava agendada a visita de 3 empresários ( a organização diz que eram empreendedores), com os quais se teria a oportunidade de conviver, falar e aprender.
Dos três ditos empreendedores, pouco ou nada retive, a não ser a expressão triste, melancólica, cansada de um deles. Curiosamente o mais novo, com os seus 40 e poucos anos, contrastando com os 60 e 80 e muitos dos outros dois. Fixei a sua expressão e o seu discurso. Ouvi dele um grito silencioso de alguém a tentar avisar-nos para os perigos desta coisa de ser-se empreendedor / empresário, mas sobretudo para o logro que é, a ideia que o sucesso deixa-o de o ser se pararmos. Ele explicava pausada e melancolicamente, que apesar de a sua empresa faturar hoje muito mais zeros do que há 20 anos atrás, isso não se traduzia em mais realização ou felicidade. Dizia ele que o sucesso crescente tinha vindo com um preço. O preço da responsabilidade exagerada, dos créditos, dos timings de entregas e pagamentos. O peso da responsabilidade de várias famílias dependerem do seu “sucesso”. E a certa altura disse-o mesmo, como que mandando uma pedra ao charco, “pensem bem se querem mesmo crescer até poder”, “ás vezes somos mais felizes mais pequenos”….
As suas palavras criaram em mim um misto de compaixão e identificação total com aquela pessoa, pois encontro-me permanentemente nessa situação. Naturalmente fruto do sucesso que vou tendo nas diversas áreas a que me dedico, novas oportunidades surgem. E com essa s oportunidades a necessidade de “crescer” em estrutura, empregados, lucros. Felizmente tenho tido a capacidade de escutar a minha intuição e sabido refrear esse instinto tão próprio do Ser Humano de querer mais e mais. Mas não é fácil, porque inseridos nesta sociedade de “sucessos” materiais resistir a esta tentação cria-nos muitas incertezas e angústias porque no fundo recusamos aquilo que todos parecem querer. Ou talvez não…. Porque afinal … “ás vezes somos mais felizes mais pequenos”!
Texto da Autoria de Rui Loureiro Mentor do Projeto Sonhadorismo
Leave A Comment
You must be logged in to post a comment.