A primeira vez que vi o Kahi e a Louise foi numa viagem de ferry entre a cidade de Surigao e a ilha de Siargao, nas Filipinas em Novembro de 2008. Apesar de viajar sozinho, não procurava impor a minha presença a qualquer outro viajante que encontrasse no caminho. A solidão era em si só um dos prazeres da minha viagem. Trocámos não mais do que um par de olhares e sorrisos cúmplices, próprios entre quem se sente uma carta fora do baralho. A Louise, Hawaiana de descendência Japonesa e o Kahi Hawaiano de descendência Filipina, destoavam ainda assim menos do que eu, entre as centenas de faces asiáticas que nos rodeavam.

Vista da Travessia de Ferry, Filipinas, Novembro  2008

Chegados a Siargao, a confusão vivida em mais um dos milhares de portos, que garantem a comunicação entre o emaranhado de ilhas, que fazem das Filipinas uma das mais ingovernáveis nações do mundo, separou-me destes possíveis novos companheiros de viagem. Quem já desembarcou num destes portos sabe, que nesse momento, todas as nossas energias estão canalizadas para a sobrevivência num dos mais caóticos cenários à face da terra.
Mas há coisas que simplesmente estão destinadas a acontecer. Os Ingleses têm um termo específico para isso, serendipity. Em Português ficamo-nos por algo mais simples…. Destino! Após mais uma hora de viagem de tuc-tuc por estradas de terra, entre a selva Filipina, chego finalmente ao surf camp onde me instalarei nos próximos 12 dias. Quis o tal destino que os meus vizinhos de bungalow fossem exatamente a Louise e o Kahi!

Nos primeiros dias não passamos dos triviais, “bom dia”, “boa tarde” ou “há ondas?”.
Foi precisamente nos momentos em que não havia ondas, que descobrimos os porquês e motivações para ali estarmos. O Kahi e a Louise estavam a meio de uma volta ao mundo em 18 meses, que menos de um ano depois os traria a Portugal, ficando em minha casa duas semanas. Ambos viviam esta experiência sem quaisquer expectativas. Apenas esperavam que a mesma lhes trouxesse mais abertura de espírito, e uma capacidade de analisarem o futuro com outros olhos. A Louise tinha terminado os seus estudos há pouco tempo, lançando-se nesta aventura sem pensar muito. O Kahi era antes desta viagem, um semi bem sucedido especulador imobiliário de Ohau, capital do Hawai, que viu nesta viagem a última oportunidade de fugir o rolo compressor da sociedade. Terminada a aventura regressaram ao Hawai.

Partilhando bons momentos com o Kahi e a Louise, Filipinas, Novembro de 2008

O Kahi motivado pela experiência que tinha vivido na Nova Zelândia, onde tinha conhecido os fundadores da Sustainable Coastlines, uma organização ambiental, decidiu fundar a Sustainable Coastlines Hawai, para combater um problema que há muito tinha identificado, a poluição nas Praias. Durante 3 anos e em regime de total voluntariado, dedicou-se a uma causa que acreditava ser a sua paixão.

Ao fim desses 3 anos conseguiu finalmente os apoios que lhe garantiram poder viver exclusivamente disso. Foi nessa altura que os visitei, convidado para o seu casamento, que mais parecia uma cimeira da ONU, tal o numero de diferentes nacionalidades, fruto das amizades coleccionadas ao longo da sua volta ao mundo.

Casamento do Kahi e Louise, Hawaii Agosto 2012 de 2008

Durante o tempo que permaneci com eles, pude vivenciar o dia a dia do sonho do Kahi. Ao contrário do que muitas vezes se possa pensar, projetos de sucesso nem sempre requerem muita organização ou recursos. A paixão e resiliência para a concretização de um sonho, são suficientes. As reuniões da organização aconteciam pelo menos duas vezes por semana na cozinha do Kahi e da Louise. Os panfletos a anunciar a próxima limpeza de praia, eram impressos na impressora que estava em cima da mesa da sala, e os autocolantes, vendidos para angariar algum fundo de maneio , produzidos quase artesanalmente em casa. Desta forma o Kahi e o seu grupo de voluntários, criaram um projeto de sensibilização junto das comunidades escolares, ajudaram empresas a tratar e contribuir para uma melhor  preservação do ambiente, lutaram para que leis como a de abolir os cigarros das praia se Ohau fossem aprovadas.

Limpeza de Praia, Sustainable Coastlines Hawaii

Ao fim de 8 anos, após se ter transformado numa ovelha amarela por tudo o que conseguiu fruto da sua conexão com a sua paixão, o Kahi recebeu o convite da sua vida!
A Parley, uma organização ambiental de alcance global, que trabalha com marcas como a Adidas ou a Nike no desenvolvimento de inovação que permita a estas marcas criar produtos a partir de plástico que se encontra no oceano, convidou o Kahi para CEO da Parley Hawai!

Foi uma longa caminhada de quase uma década, sem grandes certezas e poucos objetivos, para além de querer fazer algo que o apaixonasse e criasse um impacto positivo neste planeta.

O Kahi a primeira coisa que salvou foi a sua praia, a próxima poderá ser o Mundo!

#KeeepDreaming

For the last 8 years, co-founder Kahi Pacarro (@instakahi) has been inspiring thousands to take better care of our oceans. With a heavy heart and deep gratitude, we’d like to wish Kahi a fond a hui hou and best of luck as he continues to pursue his passion in an executive management position with Parley for the Oceans (Parley for the Oceans ). His innovative solutions and ability to inspire has grown Sustainable Coastlines Hawaii to be a leader on plastic pollution awareness worldwide. Take a look at this short documentary published by Bank of Hawaii, with an important message from Kahi Pacarro. As he steps into his new role, we are currently looking for a new Executive Director. If you're interested in applying please email resume and cover letter to info@sustainablecoastlineshawaii.org. Watch full video (link in profile) and tag a potential new Executive Director here. 🤙🏾 🎥: RKT Media Hawaii #sustainablecoastlineshawaii #plasticpollution #bankofhawaii #rktmedia #waimanalobeach #executivesearch #zooxanthellae

Publicado por Sustainable Coastlines Hawaii em Quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Artigo da Autoria de Rui Loureiro, Mentor do Projeto Sonhadorismo