Diz a definição clássica dos dicionários que, em sentido figurado, um sonho é uma “utopia: imaginação sem fundamento; fantasia; devaneio; ilusão; felicidade; que dura pouco; esperanças vãs; ideias quiméricas.”

Ao ler tal descrição não pude deixar de pensar que se calhar é por causa de coisas assim que há quem chame aos dicionários o pai dos burros. Parece evidente que estados de plenitude completa. felicidade permanente e serenidade absoluta, pertence ao campo de uma coisa que eu gosto de chamar de ficção esotérica. (…) Nada disso. Não acredito que essa espécie de estado nirvânico seja coisa que exista. E memso que existisse, não estaria interessado em atingi-lo, pois o que dá sabor à vida são exatamente os altos e baixos de que ela é feita. As pequenas viórias que se seguem ás grandes derrotas e vice versa, o carrossel das emoções, o prazer que só conhecemos e damos valor na medida em que há o seu contrário para servir de comparação.

Mesmo assim acredito que os sonhos no sentido figurado, são coisa bem mais concreta e palpável do que nos diz a definição acima reproduzida. (…) A perseguição de um sonho pressupõe sempre a possibilidade de o alcançar. No entanto tenho para mim que o verdadeiro sonho é a entrega a essa perseverança, independentemente de alcançarmos ou não o objetivo final. Tal como certa vez ouvi dizer: a felicidade é um caminho não um destino.

 

João Valente in Surf Portugal // Vol. 26 // N.º 3