A propósito do dia da Mulher, lembrei-me de uma pessoa cuja história não teve um grande impacto a nível mundial, mas que não deixa de ser uma estória de assinalar.

Apesar de que “não importa haver fome, porque assim como assim, há muita gente que come”, tal como Mário Cesariny critica no seu poema Pastelaria – refiro-me pois a partes do mundo onde ainda existem populações famintas, ou mesmo algumas sociedades ocidentais – a forma de como a partir desta senhora se passou a olhar para a cozinha mudou completamente.

Uma mulher, no início do século XX, tornou-se a primeira pessoa a conquistar três – TRÊS – estrelas Michelin, um feito que nem nunca nenhum homem tinha conquistado. Na mesma época em que as saias se encurtaram e as sufragistas em Inglaterra lutavam por um lugar na sociedade, em Lyon, uma senhora tornou a cidade do sul da França a capital gastronómica da mesma – e se quiserem, do mundo Ocidental.

Quando Anthony Bourdain, conhecido apresentador de programas do Travel Channel e depois de outros, perguntou a Paul Bocuse, outro marco da cozinha “Lyonense”,qual o chefe que mais o intimidou e mais o ensinou em toda a sua carreira, Monsieur Paul respondeu: “La Mère Brazier! Ela regia a cozinha como nenhuma outra. Era implacável!”. No início do século para qualquer um vingar a tenacidade e dureza seriam condições “sine qua non”, pois pensem como seria para uma pessoa do sexo feminino!

E é a partir dela que podemos traçar uma linha genealógica não-sanguínea e não-hereditária de todos os grandes chefs franceses que colocaram a culinária francesa como a melhor do mundo. Falo claro de Paul Bocuse, os Irmãos Troisgros, Daniel Boulud, e tantos, tantos outros.

Foram inclusivamente os irmãos Troisgros que criaram o primeiro prato de sempre de “Nouvelle Cuisine”, uma posta de salmão que cozinhava durante 30 segundos e que era servida com um molho de acelga, e que desde a cozinha até ao comensal, cozia na íntegra e chegava à mesa perfeita – fascinante! Assim nasceu a “Nova Cozinha”.

Que força da natureza esta Eugénie. E quão saborosa deveria ser a sua “Langouste Belle Aurore”.

Texto da Autoria de Diogo Rodeiro – Gestor de Conteúdos do Sonhadorismo