1. Quem é a Lizzy ?
R: Sou aquilo que me apetece Ser.
2. O avançar para o projeto “Lizzy” foi para ti uma decisão baseada na razão ou intuição?
R: Não lhe posso chamar projecto, simplesmente aconteceu. A Lizzy é a parte criativa da Lisa. Deixei que a minha energia fluísse, e com a passar do tempo percebi que tinha um estilo próprio de representação, uma identidade, e foi aí que decidi dar-lhe um nome. E tudo o que tem acontecido, foi acontecendo, só dei o primeiro passo.
O meu único projecto de vida é crescer enquanto Ser Humano, e dar o meu contributo em causas, e inspirar pessoas a serem elas mesmas, porque precisamos de nos resgatar para que o mundo possa evoluir. Não ambiciono ser nem rica nem famosa, mas ter o suficiente para conseguir viver como quero.
3. O que mudou na tua vida desde que decidiste conectar-te com a tua paixão e passar a viver dela?
R: Sempre estive conectada comigo, e com as minhas vontades. Nunca decidi com a razão, porque a minha razão é o coração. Tudo o que sou hoje deve-se a escolhas que eu tomei de livre vontade, e tomo responsabilidade por todas elas, as que correram bem e as que tiveram que correr mal para que daí adviesse alguma sabedoria.
Decidi vir para Peniche, não para me licenciar em Turismo, mas porque queria estar perto do mar e para poder surfar mais regularmente. Na altura, e ainda agora, a minha prioridade era estar equilibrada, e mesmo com os 18 anos que tinha, tive a maturidade para perceber onde estava o meu enraizamento.
Quando faço uma retrospectiva da minha vida, percebo a sorte que tive em ter pais que nunca me impuseram nada, nunca condicionaram as minhas escolhas, deram-me liberdade para ser, e espaço para me conhecer. Acredito que eles mesmos não sabem o quão importante esta liberdade para crescer sem pressas determinou tudo aquilo que sou hoje, e toda a coragem e capacidade que tenho para fazer aquilo que quero. Portanto eu nunca fui de outra forma, não tive que me libertar de nada. Sempre fui aquilo que quis ser.
4. Apostar num projeto ligado à indústria criativa, é muitas vezes tido como algo de incerto. Alguma vez as incertezas e vulnerabilidades a que te “abriste” te fizeram pensar em desistir?
R: Eu crio e vendo as minhas criações, mas o falar em industria dá a entender que crio para satisfazer as necessidades dessa indústria, ou de um público em particular, o que não é verdade. Eu desenho para me libertar. E tenho a sorte de ter pessoas que apreciam aquilo que faço, acabam por comprar ou convidar-me para fazer parte de outros projectos, e daí tiro o meu sustento. Mas não desenho para eles, desenho por necessidade de expulsão! Não tenho qualquer problema em dizer “Não”, e de recusar trabalhos que não “sinto”. Porque essa é a minha diferenciação.
Quando trabalho por paixão, o objecto final tem uma aura positiva, porque eu estive realmente envolvida no processo, e acredito que este mundo de estética carece dos nutrientes essenciais. As pessoas estão sedentas de autenticidade.
O facto de me “abrir” não me deixou mais vulnerável, muito pelo contrário. O facto de ser honesta com as minhas vontades “intimas” abriu-me as portas para a auto-descoberta. Tornei-me uma pessoa mais confiante e destemida.
Todos nós temos as nossas verdades, e os nossos valores individuais, que por natureza são sempre valores humanísticos, e onde assentam os pilares da nossa construção enquanto seres humanos. Temos crenças, desejos, ambições e missões, que nos dão um sentido de propósito no mundo, e só quando os descobrimos e cumprimos é que nos sentimos realmente realizados.
O erro do Ser Humano é pensar de mais e fazer de menos. Eu faço e não penso, sem qualquer auto-repressão.
5. O que dirias a alguém que deseja iniciar um projeto, mas que sistematicamente o adia por não ter certezas de que o mesmo possa ter sucesso?
R: Se o seu foco de atenção for o medo de falhar, irá falhar redondamente. Quando estamos sistematicamente a pensar nem algo negativo estamos realmente a atrair essa energia para a nossa vida. Somos educados no medo, na negatividade, e em não acreditarmos nas nossas capacidades. Deixamos que os outros nos construam com base na expectativa que têm sobre nós.
Para mim existe uma grande diferença entre ser-se sonhador e ser-se crente.
Eu não sou sonhadora, sou profundamente crente. O sonho coloca o objectivo num lugar exterior, passivo, fora de nós, nas “nuvens”. A crença é interna, não existe separação entre “ela” e nós, é uma manifestação do nosso Eu.
O sonho é hipotético, enquanto que a crença é uma convicção, uma certeza, um comprometimento pessoal, que requere honestidade connosco mesmos, obriga a agir. Na acção temos a certeza se queremos ou não queremos cumprir um objectivo, e dar o passo em frente, ou recuar.
As sociedades vivem de forma mecanicista, e negligenciam as aptidões de cada um. Mas cada indivíduo é uma peça do puzzle de uma organização maior, e quando renunciamos à nossa missão, ignorando as vontades do coração, apagamos a nossa luz, e vivemos infelizes. Hoje em dia há médicos que queriam ter sido músicos, há arquitectos que queriam ter sido pintores, há professores que queriam ser pescadores, há papeis invertidos, e um mundo caótico à beira do colapso.
Aquilo que digo a toda a gente é que tem que se tornar aquilo que deseja ser, e inspirar as pessoas próximas a fazerem o mesmo, porque esse é o primeiro passo para tornar o mundo um lugar melhor para todos, o resgatar da consciência e da responsabilidade sobre Si.
5. Quais as tuas maiores fontes de inspiração?
R: A minha inspiração só vem quando estou em equilíbrio e em paz comigo mesma. Para a resgatar passo tempo com a natureza e com animais, uma ligação mais pura e instintiva. Inspiram-me também todas as pessoas que têm coragem para seguir as vontades do coração.
6. Até ao momento qual a pessoa mais inspiradora que tiveste a oportunidade de conhecer através do teu projeto?
R: Não conheci a Carolina por causa do meu trabalho de ilustração. Conheci-a ainda antes disso, mas porque acompanhávamos e admirávamos o trabalho uma da outra online. Eu estava a gerir uma marca alternativa de surfwear, chamada Chicama, com produtos confeccionados à mão e numa escala muito reduzida, produzida em Portugal. Eu desenhava todos os produtos, todos os conteúdos e toda a comunicação da marca. Também nessa altura organizava algumas actividades ambientais enquanto voluntária da Surfrider Foundation. E a Carolina também fazia ambas as coisas. Tinha um pequena marca chamada Frozen, e era também voluntária da SOS Salvem o Surf. Os nossos caminhos acabaram por se cruzar até agora. Entretanto fui uma das sócias fundadoras da ONG MY Destiny, que ela projectou, e tenho ajudado como posso na implementação do projecto. Fomos apresenta-lo à India em 2015, ao India Surf Festival, onde nesse ano o foco era “Girls Power”, uma forma de inspirar as mulheres indianas a libertarem-se dos costumes machistas tradicionais, profundamente castradores. Durante aquela estadia de quase um mês, nós (3 surfistas portuguesas) permitimo-nos ser como somos em Portugal, e a nossa liberdade de espirito abalou e rompeu preconceitos, e inspirou algumas mulheres a desinibirem-se. Levei o meu trabalho de ilustração, demos aulas de surf e SUP, etc. Acabamos por saber que uma delas abriu um espaço gerido unicamente por mulheres que foram queimadas com ácido pelos ex companheiros, para que estas tivessem um sitio onde pudessem ser autenticas, quase como um refugio. Naquele momento não tivemos noção do quão importante foi termos ido à India, e o impacto que realmente tivemos. Foi de longe a “coisa” mais importante que fiz. A Carolina Pereira prosseguiu o seu caminho em projectos sociais, sendo agora a mentora do He For She em Portugal (Programa das Nações Unidas para a igualdade de Género). Ela é a uma fonte de inspiração gigante!
7.Se não fosse o projeto “Lizzy” o que te imaginarias a fazer?
R: Tudo o que quisesse fazer. Neste momento expresso-me através do traço, mas estou aberta a outras formas de expressão. Sou Livre para fazer o que quiser e para me expressar como sinto que a energia flui. Sou honesta com as minha vontades. Às vezes não me apetece desenhar, mas escrever. Então escrevo. Às vezes não consigo escrever, mas passar a tarde inteira na cozinha, então cozinho. Precisamos de nos dar espaço e liberdade. Não somos máquinas, mas seres orgânicos em constante transformação e adaptação.
Tenho aprendido que a vida são muitas vidas, e que a vida nos permite reinventar-nos e transformar-nos naquilo que quisermos.
Se me imaginasse a fazer outra coisa estava de certeza absoluta a fazê-la. Quando somos capazes de projectar algo, somos capazes de o cumprir, disso eu tenho a certeza. Quem me conhece sabe que vivo para missões, pequenas metas estúpidas que imponho a mim mesma.
8. Qual o Teu maior motivo de orgulho ?
R: Poder fazer o que mais gosto e perceber que sou modelo de inspiração para algumas pessoas é recompensador. Quando recebo mensagens a dizer que admiram aquilo que faço e que as motivei a mudarem de vida, sinto que realmente estou no caminho certo, e que não podia estar a fazer outra coisa. Sinto-me de certa forma comprometida com eles.
9. Se pudesses gritar alguma coisa para o mundo seria?…….
R: Acorda, a tua vida és tu que a fazes!
10. Qual o próximo sonho da Lizzy?
R: Um mundo livre e justo para todos. Ser feliz e dar o meu contributo para um mundo melhor. Não tenho grandes ambições individuais.
Fica a saber mais sobre o trabalho da LIZZY na sua página de facebook e no seu site. Vale a Pena!!
Leave A Comment
You must be logged in to post a comment.