Fernando Romão encontra na natureza o seu “Elemento”. Foi através do desenvolvimento deste “elemento” que encontrou uma forma de viver permanentemente conectado com aquilo que o faz feliz e realizado. É hoje fotógrafo, guia de natureza, autor de livros…. Fique a saber mais nas linhas desta apaixonante entrevista:
1- Quando e como descobriste a tua paixão pela Natureza e a Protecção do Ambiente?
A minha paixão, a natureza em geral, descobri-a na adolescência. No entanto, penso que esta foi crescendo e sendo alimentada desde alguma fase da infância, antes ainda de se insinuar como uma paixão. Apesar de ter nascido e vivido durante muitos anos no centro de uma grande cidade, o facto de os meus pais terem origens numa aldeia de interior permitiu-me usufruir de um contacto com o campo (e a natureza) durante vários meses por ano, desde que nasci. A partir de certa altura, na aldeia, consegui alguma autonomia que não me era permitida na cidade e tinha a liberdade para conseguir explorar o território circundante, quer através de brincadeiras (ainda em criança), quer em modo exploratório do território e de procurar conhecer a biodiversidade existente (anos mais tarde).
2- Tiveste o apoio da tua família/comunidade para aprofundar o teu talento? Se sim, em que medida te apoiaram?
Não houve um apoio directo, até porque, no caso dos meus pais, estes preferiam que eu tivesse assumido outros talentos… No entanto, lá por casa foram aparecendo alguns livros interessantes, embora genéricos, que acabaram por ser as minhas “bíblias” no aprofundamento do meu talento. Nessa altura, também uma ou outra instituição e biblioteca mais composta acabaram por complementar com mais informação ou orientar-me.
3- Porquê decidiste dedicar-te a tempo inteiro ao teu interesse?
A certa altura da minha vida, derivado de contactos e relacionamentos com outras pessoas que também se dedicavam ao mesmo interesse, consegui uma oportunidade de trabalho na área do meu interesse. Nessa fase, interrompi a minha aprendizagem escolar e propus-me trabalhar a tempo inteiro numa associação de defesa e conservação da natureza, monetariamente compensada de forma simbólica. Foi mesmo uma proposta minha. Considerei que era aquilo que eu queria para a minha vida e era o que me fazia feliz e dava significado à minha existência. E para mim isso é o mais importante. Não era só o ganhar o primeiro dinheiro mas era fazer aquilo que gostava. Inclusivamente, o dinheiro que ganhava ao dedicar-me ao que gostava de fazer era reinvestido em mais aprendizagem e desenvolvimento deste interesse.
E até agora, há já 22 anos, continuo dedicado a tempo inteiro ao que gosto de fazer ou ao que me permite estar o mais próximo possível do meu “habitat”. Tenho consciência que o meu interesse, pelo que representa e pela região e país em que se enquadra, dificilmente me irá proporcionar enriquecer financeiramente. Ainda assim, procurei não me limitar e desviar dos meus interesses por considerar que a maior riqueza está em nós próprios e na paz que conseguimos alcançar quando estamos bem com nós próprios e com aquilo a que nos dedicamos.
4- Identificas-te totalmente com o teu “Elemento”? Ou tens outros interesses e talentos paralelos?
Identifico-me totalmente com o meu “Elemento” e todo o meu percurso de aprendizagem e de trabalho foi direccionado nesse sentido. Contudo, sempre me considerei uma pessoa polivalente e flexível, pelo que tenho conseguido desenvolver outros interesses e talentos, alguns muito motivados pelo meu “Elemento” (a fotografia por exemplo, que também acabou por se tornar na agradável descoberta de um segundo interesse de vida e que agora também desenvolvo a tempo inteiro), outros de forma mais indirecta mas que de certa forma se complementam.
5- Consideras que o teu trabalho/talento é a realização pessoal, apenas para ti, ou poderá ter um alcance mais vasto, contribuindo para o bem-estar de outros?
Para além de ser uma realização pessoal, considero que o meu talento também tem contribuído para o bem-estar de quem tem partilhado comigo esta paixão, sejam colegas de trabalho, sejam clientes. O meu trabalho ligado à natureza, um tema cada vez mais importante e vasto, tem-me permitido divulgar e partilhar conhecimentos e aproximar as pessoas de um mundo ainda delas desconhecido, contribuindo para o seu enriquecimento pessoal e bem-estar físico e mental.
6- Que mensagem deixas aos mais jovens, para que eles possam também desenvolver o seu potencial e encontrar o seu elemento?
Não é fácil, mas também a vida não teria outro sabor se fosse de outra forma. Acho que actualmente está tudo muito facilitado. Em alguns aspectos ainda bem. Noutros…
Acaba por ser uma conquista pessoal realizarmos os nossos objectivos. Ficamos bem com nós próprios e com o que nos rodeia. É importante a aprendizagem que fazemos durante a nossa vida escolar (seja em que vertente for), de forma a reunirmos conhecimentos e conceitos que nos irão ajudar no futuro. Muito importante é, em simultâneo, procurar desenvolver o nosso “Elemento” dedicando-lhe uma aprendizagem mais autónoma e pessoal ou colmatando com o que não se consegue aprender no sistema de ensino actual, no momento em que queremos obter esses conhecimentos.
Se gostamos do que nos motiva e do que fazemos a aprendizagem e o esforço/dificuldades superam-se com vontade. É preciso muita dedicação, perseverança e investimento até conseguirmos desenvolver os nossos interesses. E sobreviver através deles! Ao fim de duas décadas de investimento nos meus interesses, consegui criar em mim próprio uma ferramenta de extremo valor e procura, que me permite assegurar diversas funções de forma autónoma ou em parceria com outros. Pode parecer demasiado tempo para um jovem dos dias de hoje (talvez iludido pelas razões referidas acima e pressionado pela sociedade actual), mas a verdade é que esse investimento se reflecte imenso na qualificação e valorização profissional, atributos muito valorizados por clientes e entidades empregadoras.
Em todos estes anos que tenho assumido esta filosofia de vida, nunca precisei de olhar para o relógio nem nunca marquei férias. Trabalhar é o que me motiva e não me considero um viciado em trabalho pois não me sinto doente, muito pelo contrário. Tem sido o motor que me tem impulsionado nos momentos mais difíceis.
Fique a saber mais sobre o trabalho de Fernando Romão aqui : www.facebook.com/wildlifeportugal
Entrevista e Conteúdos da Responsabilidade de Agnes Sedlmayr colaboradora SDO
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