Tenho nas últimas semanas dedicado algum tempo a pensar sobre o “sistema”. Principalmente desde que comecei a observar o stress e a ansiedade de milhares de cidadãos, logo nas primeiras horas da manhã, na busca de um lugar de estacionamento quer seja para deixar os seus filhos na escola / creche, quer seja para ir trabalhar.
O dia começa para milhares ou milhões de pessoas desta forma, desgastante, corrosiva. Ontem ficámos a saber pelas notícias ou ao vivo, para quem teve a infelicidade de o experimentar, que milhares de pessoas no desespero de chegar a horas aos seus empregos, começaram o dia esmagadas lutando por um lugar num cacilheiro na margem sul de Lisboa…..
Mas que sistema é este que reduz a existência de tantos milhares ou milhões de pessoas no nosso mundo, a uma mera sobrevivência? Que Sistema é este que retira a lucidez e capacidade de reflexão a milhões de seres humanos, ao ponto de aceitarem situações tão indignas como viver apenas para pagar créditos, passarem toda uma vida em empregos sem significado, a abdicarem da educação dos seus filhos, ou abdicarem ainda jovens dos seus sonhos por mero receio do incerto?
Ora bem… este é o mesmo sistema que assegura a nossa sobrevivência e que previne que vivamos num caos absoluto…. Paradoxal?! Por um lado sim, mas se pensarmos bem, o “sistema” é o produto da construção de várias civilizações ao longo de milhares e milhares de anos. Não chegámos aqui por acaso. Chegámos aqui por assim o construímos.
— O grande gozo é conseguirmos conviver com o sistema tentando subvertê-lo! Aceitando o que de bom ou necessário existe nele, rejeitando no entanto tudo o que de mau ele nos tenta impingir.
Portanto, a primeira coisa a fazer é aceitar a sua existência! Ele existe , está cá e não vai desaparecer ou sofrer mudanças significativas, muito provavelmente durante a nossa existência neste maravilhoso planeta terra!
Tentar derrubar o sistema é pura perda de tempo! Assisti durante a minha carreira de professor, a vários colegas que tinham como objetivo ou desejo derrubar o sistema. Estas eram invariavelmente pessoas a quem se notava sentimentos e estados de raiva. Precisamente motivados pela frustração de lutarem por algo que não é possível. Se realmente queremos contribuir para a possível mudança do sistema, então temos de conviver com ele.
No entanto isso não significa que tenhamos de aceitar as suas regras. Não… muito pelo contrário. O grande gozo é conseguirmos conviver com o sistema tentando subvertê-lo! Aceitando o que de bom ou necessário existe nele, rejeitando no entanto tudo o que de mau ele nos tenta impingir.
Isso poderá envolver o aceitar os cuidados de saúde que os nossos hospitais nos oferecem, mas rejeitar ou refletir sobre a tentativa de intoxicação com fármacos, levada a cabo pelas indústrias farmacêuticas. Ou então, usufruir da maravilhosa invenção que é a internet, mas selecionar bem os conteúdos que assimilamos, controlando e refletindo sobre o uso e tempo que passamos ao computador ou telemóvel. Ou ainda aproveitar o quão cómodo é poder ter um cartão multibanco, mas ser muito cauteloso a todas as ofertas de crédito que esse mesmo banco nos apresenta.
O grande desafio é conseguir viver naquilo que eu designo por “System Rainbow Zone” , a zona de arco íris do sistema. Ou seja, uma zona intermédia entre o sistema e a ausência de sistema. Uma zona onde convivem aqueles que não abdicando por exemplo de ter uma casa confortável, resistem á tentação de um crédito, para ter a casa com que sonhamos mas que na verdade não precisamos. Que prefere investir no imaterial, do que no carro novo. Que sabe rejeitar progressões douradas na carreira, sacrificando o tempo com aqueles de quem mais gosta, com a desculpa que lhes estará a assegurar o futuro. Que não abdica de se conectar com as suas paixões, mesmo que para isso tenha de ser “irresponsável”.
Mas cuidado!!! Para se conseguir viver na “System Rainbow Zone” é necessário um permanente estado de vigilância, pois as tentações centrífugas do sistema e a ilusória atração da ausência de sistema são forças extremamente fortes e sedutoras!
#KeepDremaing
Texto da Autoria de Rui Loureiro Mentor do Sonhadorismo
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