Irrequieta e “passeadora” nata toda a vida, foi em 2010 que a Filipa descobriu o seu verdadeiro “elemento”. Interrompeu o trabalho como médica dentista para o que começou por ser uma experiência de voluntariado internacional na Argentina, que duraria apenas três meses mas se transformou numa viagem de um ano na América do Sul. Percebeu que se sentia mais ela mesma a viajar e que queria transmitir essa sensação e as histórias que a tocavam, de forma a inspirar os outros. A escrita, que tinha sido sempre apenas um hobby, foi adquirindo um papel cada vez mais importante. Desde então tem dividido o seu tempo entre Lisboa, viagens várias e pesquisa de projectos e maneiras de os tornar ambientalmente mais sustentáveis. Partilha essas histórias em contosalfacinhas.

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1- Quando descobriste a tua paixão por viajar e escrever?

Ambas sempre estiveram presentes na minha vida. Sempre gostei de descobrir sítios novos, em Portugal ou fora, e tenho diários e pequenas histórias escritas desde que aprendi a escrever. Mas que me tivesse apercebido que o meu caminho era por aí, que o que me preenchia realmente era essa conjugação, creio que foi na Argentina, em 2010. A decisão de ir para lá três meses fazer um projecto de voluntariado vem, provavelmente, já da sensação que o precisava na minha vida, mas a tomada de consciência deu-se já lá. Então decidi ficar, continuar a viajar e comecei a desenvolver mais a escrita. Inscrevi-me em cursos e comecei a escrever mais regularmente e menos só para mim e para os amigos.

2- Tiveste o apoio da tua família/comunidade para aprofundar o teu talento? Se sim, em que medida te apoiaram?

Sim. Ainda que, inicialmente, não percebessem porque é que queria deixar um trabalho estável, bem remunerado e para o qual tinha estudado, e se assustassem pela instabilidade da minha escolha, sempre estiveram lá. Quer a resolver burocracias cá quando estou fora, quer através do respeito pelas minhas escolhas e a segurança que me dá saber que, se tudo falhar, tenho uma rede de segurança. Isso dá-me a tranquilidade para continuar.

3- Porque decidiste abandonar a profissão/o emprego e dedicar-te ao teu talento?

Porque percebi que  não me realizava totalmente como pessoa sendo médica dentista. Porque senti que era a melhor versão de mim quando viajo e quando conto histórias. Porque acho que através dessas histórias posso contribuir mais para a mudança que quero ver no mundo.

4- Consideras ser possível manter a autenticidade e viver do teu talento, sem cair na “mercantilização”? (Isto é, sem seres obrigado a criar com objetivo meramente comercial)?

Espero que sim. Isto ainda é tudo muito recente para mim, mas tenho feito as minhas escolhas tentando evitar isso mesmo.

5- Identificas-te totalmente com o teu “Elemento”? Ou tens outros interesses e talentos paralelos?

Identifico-me totalmente E tenho outros interesses. Aborrece-me pensar em fazer apenas uma coisa e gosto de desafios.

6- Consideras que o teu trabalho/talento é a realização pessoal, apenas para ti, ou poderá ter um alcance mais vasto, contribuindo para o bem estar de outros?

Quero que tenha um alcance mais vasto, que não seja apenas um capricho egocêntrico. Nas suas duas vertentes. Nas minhas viagens pessoais, e como Líder de Viagens espero conseguir inspirar as pessoas a ser mais curiosas e a estar mais atentas ao que as rodeia, a sair um pouco da zona de conforto, a desafiarem-se e questionarem-se. E com a escrita também. Para além dos relatos pessoais, quero principalmente descobrir histórias de pessoas que estejam a fazer a diferença, seja através do seu exemplo de vida, seja do trabalho que realizam. É disso que ando à procura.

7- Que mensagem deixas aos mais jovens, para que eles possam também desenvolver o seu potencial e encontrar o seu elemento?

É um lugar comum…mas é assim mesmo: que se escutem, verdadeiramente. E descobrindo qual é esse elemento que lutem por ele, independentemente das convenções sociais ou das opiniões dos outros. Se se libertarem da necessidade ultra-consumista e da competitividade desmesurada, tão impostas hoje em dia, torna-se mais fácil.

Entrevista da Autoria da Colaboradora SDO Agnes Sedlmayr do projeto Livre Para Crescer