Viver uma vida em que realizamos o nosso talento, em que vivemos o nosso Elemento- “o ponto em que a aptidão natural e a paixão pessoal se encontram.” é difícil. Geralmente passamos grande parte dos nossos dias a executar tarefas e cumprir ordens de terceiros, ou a trabalhar arduamente sem estarmos emocionalmente envolvidos, desejando terminar o dia de trabalho, chegar o fim de semana ou as férias…
Porém, há pessoas que não se conformam com isso. Há pessoas que concluem que não querem passar assim as suas vidas. Há pessoas que descobrem o seu talento, encontram a sua paixão, seguem o seu “chamamento” e arriscam mudar de vida.
Ao longo desta serie de textos que intitulei “O Elemento” , em concordância com o conceito de Ken Robinson, entrevistei variadas pessoas que encontraram o seu talento e o desenvolvem.
Ao procurar pessoas para entrevistar, deparei me com um facto intrigante: é relativamente fácil encontrar homens que arriscam mudar de vida, sair da carreira convencional e desenvolver o seu potencial; porém, torna-se muito mais difícil, encontrar mulheres assim!
Porquê?
Refletindo sobre esta questão, conversando com amigos sobre o assunto e pesquisando, cheguei a algumas conclusões que gostaria de partilhar aqui.
Em primeiro lugar, julgo que, ainda hoje, existe um grave mal-entendido relativamente à emancipação da mulher. Ainda hoje, uma mulher julga-se emancipada se ocupa o lugar do homem, se trabalha nas mesmas funções que o homem, se baseia a sua vida nos mesmos valores e mesmas prioridades que o homem. Desta forma, o que a grande parte das mulheres anseia- como afirmação do seu lugar na sociedade- é ter um emprego como um homem. As mulheres são educadas para ocuparem o seu lugar na economia, e consideram-se emancipadas se trabalham fora de casa num emprego estável. No entanto, esta falsa emancipação não tem em conta que, simplesmente, homem e mulher têm funções e talentos diferentes e, ao longo dos milhares de anos de evolução, cooperavam, juntando suas diferenças para o bem geral, em vez de competirem, como acontece hoje em dia. Ainda mais que os homens, parece me que grande parte das mulheres vêem como objetivo máximo da vida um emprego, com o qual possam sair do estigma da “doméstica incompetente”. Portanto, quando uma mulher consegue um lugar no mercado de trabalho, muitas vezes canaliza todas as suas energias para o manter, em vez de procurar descobrir-se e desenvolver talentos fora do comum ou do socialmente aceitável.
Assim, para grande parte das mulheres que conheço, seria impensável abandonar o emprego (mesmo que seja chato, aborrecido, mal-pago ou extenuante) para arriscar outros vôos. Julgam que atingiram finalmente aquilo que tantas gerações de mulheres oprimidas desejavam: um emprego! E não imaginam que isso poderá comprometer a sua felicidade e os seus talentos naturais.
Em segundo lugar, a existência de, comparativamente, poucas mulheres que envergam por caminhos de vida fora do comum, deve-se também às obrigações familiares que, ainda hoje, recaem maioritariamente nas mulheres. Apesar de todo o movimento de emancipação e igualdade, as mulheres continuam a carregar a grande responsabilidade pelo bem-estar fisco e emocional dos filhos e estão muitos anos extremamente envolvidas na educação dos mesmos, tendo que abdicar de realizar as suas paixões e vontades pessoais. Muitos homens, pelo contrário, exploram seus talentos paralelamente e por vezes até às custas da família, assumindo automaticamente que a vida familiar é da responsabilidade da mulher.
Desta forma, julgo que grande parte das mulheres continuam oprimidas, mesmo que de forma subtil e disfarçada. Julgo que o empoderamento da mulher, tão importante e tão diferente dos ideais antiquados da emancipação, esse empoderamento passa exatamente por isto: que cada mulher tenha o direito de viver o seu Elemento, cooperando com o mundo masculino e contribuindo com os dons femininos que tanto fazem falta à nossa sociedade.
Penso ser extremamente importante demonstrar aos jovens, que a realização pessoal não passa necessariamente por um emprego ou outra atividade visível e mensurável no mercado de trabalho. Há muitas pessoas com talentos pouco valorizados, como as capacidades emocionais, artísticas, interpessoais, estéticas, etc. que não cabem nos compartimentos rotulados de “bem-sucedido”. E muitas dessas pessoas são mulheres.
Irei publicar aqui algumas entrevistas a mulheres. Mulheres, cujo poder reside em seguirem o seu sonho, mesmo que estigmatizadas pela mundivisão masculina.
A primeira mulher entrevistada é um exemplo vivo de uma mulher assim: que assume a sua função de mãe que nutre, apoia e ama o seu filho, aspetos vistos como secundários mas, na verdade as bases para a sociedade e, para além disso, desenvolve o seu próprio Elemento.
Artigo da Autoria da Colaboradora SDO Agnes Sedlmayr e autora do site
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