António Luís Campos transformou uma adversidade numa oportunidade para perseguir o seu “elemento” e viver uma vida conectada com os seus interesses e paixões. Entre muitos projetos, destaca-se o “Crónicas da Atântida” durante o qual documentou a sua viagem de 9 meses pelas Ilhas dos Açores, publicando uma foto por dia.
1- Quando e como descobriste a tua paixão pela fotografia?
Já durante a universidade, a meio de um curso em que entrei porque quis, mas do qual não gostava, com 20 anos. Fazia muitas actividades na Natureza – caminhadas, viagens, birdwatching, associativismo juvenil, e a fotografia surgiu como uma forma de captar essas sensações e emoções. Existiam máquinas fotográficas lá por casa, do meu pai, que me incentivou e ajudou a comprar a minha primeira máquina. A partir dai foi um crescendo de comprometimento, até chegar ao ponto em que assumir profissionalmente essa paixão se colocou seriamente.
2- Tiveste o apoio da tua família/comunidade para aprofundar o teu talento? Se sim, em que medida te apoiaram?
Sim. Os meus pais ajudaram a adquirir o primeiro equipamento fotográfico, sempre incentivaram as minhas viagens e saídas de campo, que foram a génese da descoberta deste outro caminho. Atirei-me de cabeça para este mundo, portanto nem sequer me questionei muito nem precisei de apoio ou incentivo.

fotografia tirada por António Campos aquando da sua expedição pela Amazónia Boliviana.
3- Porque decidiste abandonar a profissão/o emprego e dedicar te ao teu talento?
Porque senti que assim tinha de ser. E porque a vida me deu um empurrão: tinha um emprego estável como engenheiro electrotécnico e, de repente, a empresa fechou. Foi o timing perfeito para eu me dedicar a tempo inteiro à fotografia. Fui despedido no dia em que a minha filha nasceu! Foram as duas melhores coisas que me poderiam ter acontecido!
4- Consideras ser possível manter a autenticidade e viver do teu talento, sem cair na “mercantilização”? (Isto é, sem seres obrigado a criar com objetivo meramente comercial)?
Sim, é possível, mas nem sempre fácil. É preciso ter dois registos – um que é viver sem angústia e de forma confortável (conceito que é altamente subjectivo e variável), e que pode por vezes implicar ser “comercial” e um outro, que consiste em alimentar a nossa paixão. Tenho muitos projectos pessoais que não são rentáveis e ainda assim me dão imenso prazer. E que, eventualmente, até acabarão por trazer outros, rentáveis, a médio prazo. É uma questão de equilibrio e de não nos acomodarmos.

Burro da Graciosa. Fotografia tirada por António Campos durante no âmbito do seu projeto Cónicas da Atlântida.
5- Identificas-te totalmente com o teu “Elemento”? Ou tens outros interesses e talentos paralelos?
Tenho vários interesses. Aliás, sendo a fotografia a minha actividade principal, não é a única. O gosto pela viagem e pela descoberta, e ainda pela comunicação, têm-me levado a diferentes destinos, que vejo sempre como paragens intermédias e não como estações terminais. Gosto de uma certa inconstância, de um inesperado, que me faça levantar de manhã com vontade de viver o dia e ter projectos e desafios por diante!
6- Consideras que o teu trabalho/talento é a realização pessoal, apenas para ti, ou poderá ter um alcance mais vasto, contribuindo para o bem estar de outros?
O meu propósito vai muito para além da minha realização profissional. Acho que todos temos o dever, para com a comunidade em que nos inserimos, de, em algum momento, colocar o nosso dom ao serviço dos outros. Se sei fotografar bem e mostrar a beleza do mundo ao próximo, devo fazê-lo. Se viajo, quero partilhar os encantos que encontrei na jornada. Se sou um contador de histórias, porque não contar o que ouvi contar? E acrescentar um ponto, já agora?
7- Que mensagem deixas aos mais jovens, para que eles possam também desenvolver o seu potencial e encontrar o seu elemento?
É quase um cliché… mas diria para seguirem o seu coração. A formação académica é apenas uma ferramenta, útil, mas apenas uma base (e nem sempre absolutamente necessária). O que realmente nos fará destacar e brilhar é sermos bons naquilo que fazemos. O melhor que podemos e sabemos ser.
E, em último lugar, que não considerem os bens materiais a bitola do sucesso pessoal! Há um patamar de conforto que é legítimo desejar e buscar, mas a satisfação interior e o sentido de partilha são tão mais importantes!
Antonio Luis Campos
Entrevista de Autoria de Agnes Sedlmayr colaboradora SDO
Leave A Comment
You must be logged in to post a comment.