20627_437685063075734_6501384405556244767_nAntónio Luís Campos transformou uma adversidade numa oportunidade para perseguir o seu “elemento” e viver uma vida conectada com os seus interesses e paixões. Entre muitos projetos, destaca-se o “Crónicas da Atântida” durante o qual documentou a sua viagem de 9 meses pelas Ilhas dos Açores, publicando uma foto por dia.
1- Quando e como descobriste a tua paixão pela fotografia?
Já durante a universidade, a meio de um curso em que entrei porque quis, mas do qual não gostava, com 20 anos. Fazia muitas actividades na Natureza – caminhadas, viagens, birdwatching, associativismo juvenil, e a fotografia surgiu como uma forma de captar essas sensações e emoções.  Existiam máquinas fotográficas lá por casa, do meu pai, que me incentivou e ajudou a comprar a minha primeira máquina. A partir dai foi um crescendo de comprometimento, até chegar ao ponto em que assumir profissionalmente essa paixão se colocou seriamente.

2- Tiveste o apoio da tua família/comunidade para aprofundar o teu talento? Se sim, em que medida te apoiaram?
Sim. Os meus pais ajudaram a adquirir o primeiro equipamento fotográfico, sempre incentivaram as minhas viagens e saídas de campo, que foram a génese da descoberta deste outro caminho. Atirei-me de cabeça para este mundo, portanto nem sequer me questionei muito nem precisei de apoio ou incentivo.

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fotografia tirada por António Campos aquando da sua expedição pela Amazónia Boliviana.

3- Porque decidiste abandonar a profissão/o emprego e dedicar te ao teu talento?
Porque senti que assim tinha de ser. E porque a vida me deu um empurrão: tinha um emprego estável como engenheiro electrotécnico e, de repente, a empresa fechou. Foi o timing perfeito para eu me dedicar a tempo inteiro à fotografia. Fui despedido no dia em que a minha filha nasceu! Foram as duas melhores coisas que me poderiam ter acontecido!

4- Consideras ser possível manter a autenticidade e viver do teu talento, sem cair na “mercantilização”? (Isto é, sem seres obrigado a criar com objetivo meramente comercial)?
Sim, é possível, mas nem sempre fácil. É preciso ter dois registos – um que é viver sem angústia e de forma confortável (conceito que é altamente subjectivo e variável), e que pode por vezes implicar ser “comercial” e um outro, que consiste em alimentar a nossa paixão. Tenho muitos projectos pessoais que não são rentáveis e ainda assim me dão imenso prazer. E que, eventualmente, até acabarão por trazer outros, rentáveis, a médio prazo. É uma questão de equilibrio e de não nos acomodarmos.

Burro da Graciosa. Fotografia tirada por António Campos durante no âmbito do seu projeto Cónicas da Atlântida.

Burro da Graciosa. Fotografia tirada por António Campos durante no âmbito do seu projeto Cónicas da Atlântida.

5- Identificas-te totalmente com o teu “Elemento”? Ou tens outros interesses e talentos paralelos? 

Tenho vários interesses. Aliás, sendo a fotografia a minha actividade principal, não é a única. O gosto pela viagem e pela descoberta, e ainda pela comunicação, têm-me levado a diferentes destinos, que vejo sempre como paragens intermédias e não como estações terminais. Gosto de uma certa inconstância, de um inesperado, que me faça levantar de manhã com vontade de viver o dia e ter projectos e desafios por diante!

6- Consideras que o teu trabalho/talento é a realização pessoal, apenas para ti, ou poderá ter um alcance mais vasto, contribuindo para o bem estar de outros?
O meu propósito vai muito para além da minha realização profissional. Acho que todos temos o dever, para com a comunidade em que nos inserimos, de, em algum momento, colocar o nosso dom ao serviço dos outros. Se sei fotografar bem e mostrar a beleza do mundo ao próximo, devo fazê-lo. Se viajo, quero partilhar os encantos que encontrei na jornada. Se sou um contador de histórias, porque não contar o que ouvi contar? E acrescentar um ponto, já agora?

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7- Que mensagem deixas aos mais jovens, para que eles possam também desenvolver o seu potencial e encontrar o seu elemento? 

É quase um cliché… mas diria para seguirem o seu coração. A formação académica é apenas uma ferramenta, útil, mas apenas uma base (e nem sempre absolutamente necessária). O que realmente nos fará destacar e brilhar é sermos bons naquilo que fazemos. O melhor que podemos e sabemos ser.
E, em último lugar, que não considerem os bens materiais a bitola do sucesso pessoal! Há um patamar de conforto que é legítimo desejar e buscar, mas a satisfação interior e o sentido de partilha são tão mais importantes!
Antonio Luis Campos

www.antonioluiscampos.com

blog.antonioluiscampos.com

www.cronicasdaatlantida.org

Entrevista de Autoria  de Agnes Sedlmayr colaboradora SDO