Esta semana tive a oportunidade de me conectar com uma das minhas maiores paixões e algo que me equilibra em situações de maior stress, o Mar!

Nas últimas semanas, os bancos de areia de uma das Praias da Figueira da Foz têm produzido ondas fantásticas. Daquelas pelas quais os surfistas muitas vezes, viajam milhares de kms e gastam pequenas fortunas, para as surfar do outro lado do mundo.

Numa sociedade tão mediática e global como a atual, não tardou muito para que essas ondas, geralmente partilhadas por uma dezena de surfistas da região, passassem a ter a visita de dezenas de outros surfistas vindos literalmente de todo o lado.

Foi num desses dias, após estacionar o carro e assistir a tamanho rebuliço num local onde habitualmente aquilo que encontro é Paz, que decidi após vários minutos a olhar o mar que não iria surfar ali. Iria procurar outra praia onde pudesse surfar sozinho. Decidi sem grande esperança, espreitar outra praia, geralmente a mais concorrida nestas bandas por quem se aventura a meter-se em cima de uma prancha no mar. As minhas expectativas relativamente à qualidade das ondas era pouca ou nenhuma, até porque se as ondas estivessem boas a probabilidade de estar ainda mais gente do que na outra praia seriam ainda maiores, e isso era tudo o que não queria.

Tinha-me proposto entrar no mar num local onde estivesse sozinho, nem que isso significasse surfar ondas medíocres. Foi assim, e ainda imerso nestes pensamentos, que cheguei ao meu destino sendo surpreendido por uma cara sorridente de um amigo acabado de sair da água, e que eu imaginara estar no meio da confusão que tinha deixado para trás.

Surpreendido perguntei : “ como é que está?”.
“Altas ondas! Vai lá que está só o meu irmão na água” _ respondeu ele.

Fechei o carro e andei uns metros para espreitar a praia. Não queria acreditar no que os meus olhos viam. Ondas perfeitas quebravam num mar azul, apenas com uma pessoa dentro de água. Algo tão raro nos dias de hoje como encontrar um trevo de quatro folhas.

Há 20 anos atrás, sem redes sociais ou câmaras nas praias, não nos era possível saber como estavam as condições do mar e por isso cada um ia à procura da sua onda. Hoje como todos têm acesso à informação, acabamos por encontrar-nos nos mesmos sítios, à mesma hora, a fazer o mesmo.

Vesti o fato apressadamente e atirei-me ao mar. Durante as quase duas horas que estive dentro de água, entre ondas perfeitas surfadas com um sorriso rasgado e em paz, pensei na forma como esta sociedade de massas altamente mediática onde tudo é partilhado e amplificado, nos acaba por condicionar as escolhas e induzir-nos a seguir o rebanho como cegas ovelhas.

No surf como na vida, procurarmos o nosso caminho mesmo que isso signifique seguir em sentido contrário, é talvez a forma mais eficaz de encontrarmos aquilo que mais procuramos, a felicidade!

Texto da Autoria de Rui Loureiro Mentor do Projeto Sonhadorismo