O salto para o desconhecido, contrariando todas as vozes, incluindo aquela que dentro de nós muitas vezes nos “puxa” para baixo, leva-nos ao encontro de pessoas, lugares e momentos inesquecíveis, como aquele que vivi a 15 de Outubro de 2008.

“Enquanto lá estive não me senti na Europa…senti-me em Portugal!”

Foi assim que um Australiano entusiasmado por me conhecer no seu País, descreveu a sua estadia em Portugal.

O sentimento dos Australianos em relação ao nosso País, varia entre dois extremos, o completo desconhecimento e a admiração. Confessam que não constava na lista de Países a visitar, acabando por se encantar com a gastronomia, paisagem, gentes e sobretudo a genuinidade do País.
De todos os Australianos que visitaram Portugal e que tive o privilégio de conhecer, marcaram-me especialmente três. O Jack por ter passado 2 semanas na Bordeira, aldeia do litoral Algarvio, um desconhecido que a primeira praia Portuguesa que se lembrava era imagine-se… a Praia da Tocha e o Ian.

O Ian tinha 65 anos,  velejador por paixão e taxista de profisão. Como qualquer conversa entre taxista e passageiro a nossa seria igualmente banal, até me perguntar de onde era. Quando ouviu “Portugal”, a sua expressão fechou-se como que não acreditando no que ouvia. Tinha estado em Portugal em 1974, ano da revolução. Desde aí jamais se tinha cruzado com um Português. Já com o táxi parado á porta de casa e o taxímetro desligado, a voz do Ian deixava escapar a emoção própria de quem sente o que recorda.

Lembrava-se de um País pobre e sofrido, onde há 30 anos as ondas e o mar não mais representavam do que o sustento e o tormento de muitas famílias. Esse foi o primeiro aspecto que o intrigou. A relação das pessoas com o mar e a admiração com que o olhavam, sempre que o viam entrar ou sair do mar. Quis saber tudo… se as ondas de “Pénixe”, “Èrriceirra” ou “Figuéra da Foch” ainda eram como há 30 anos, quando as desfrutou sozinho. Se o pão ainda era cozido a lenha ou se o cheiro das fábricas de conserva de Peniche ainda era o mesmo. Tive de lhe explicar que as ondas apesar de boas, já não são solitárias, que o pão deixou de ser como era, e que as fábricas já não cheiram porque simplesmente fecharam.

Dias antes da revolução, ficou a saber que era desaconselhável a permanência de estrangeiros em Portugal. Rumou então a Lisboa com o objectivo de deixar o País. No entanto, algo lhe dizia para ficar. Não acreditava que naquele País pudesse haver uma revolução sangrenta….”E não houve!”… disse-me com um rasgado e sentido sorriso, grato por aquele povo e País que descobriu quase por acaso não o ter desiludido.

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